sábado, 7 de novembro de 2020

CRISE CLIMÁTICA X CRISE DE GERAÇÕES

O jornal britânico The Guardian publicou um artigo sobre as fissuras entre as gerações de jovens americanos e seus familiares mais velhos. 

A crise climática e as suas sérias consequências estiveram presentes nos debates eleitorais nos Estados Unidos com o candidato democrata reconhecendo o problema e o candidato republicano negando a sua existência. 

Nas famílias americanas,  os desentendimentos estão acontecendo entre os mais jovens e os parentes mais velhos, como é o caso da jovem Gemma Gutierrez de 16 anos e seus avós. Gemma foi inspirada por Greta Thunberg a contatar os políticos locais para expressar sua preocupação com a crise climática. Os avós, no entanto, acham que ela foi influenciada pela opinião popular. O avô trabalhou na petróleo Exxon e diz que mais calor é até bom... 

Gemma planeja escrever uma carta para os avós para explicar sua angústia, mas sabe que as discussões podem terminar num impasse.
Lily Jarosz, de 17 anos, disse ao The Guardian:" Posso ver uma divisão geracional muito clara ", quando conversando com seus pais "apolíticos da Geração X-er" e sua avó "abertamente hostil". "Isso me dói muito, como se ela não se importasse comigo ou não entendesse o imediatismo do problema."

Segundo o The Guardian,  mesmo jovens conservadores estão cada vez mais alarmados com o impacto do aquecimento global. O número esmagador de 80% dos eleitores com idades entre 18 e 29 anos considera a crise climática “uma grande ameaça à vida na Terra”, de acordo com uma pesquisa realizada no início deste ano. Os níveis de preocupação entre os idosos, principalmente os eleitores republicanos, ficam significativamente aquém.

A vitória de Joe Biden nos EUA e seu compromisso de entrar no Acordo de Paris dá esperança para combater efetivamente o aquecimento global e o efeito das mudanças climáticas.

No Brasil, o debate sobre a crise climática não dividiu gerações e é desconhecido pela maioria do povo brasileiro. Por outro lado, há uma percepção geral de que devemos preservar a Amazônia e o Pantanal, mas o povo continua fazendo churrasco, enchendo o tanque com gasolina e usando as sacolinhas plásticas feitas de petróleo. 

O Brasil ainda tem 66% da sua cobertura vegetal preservada, de acordo com a Embrapa Territorial, mas o problema climático é um problema global e as mudanças climáticas provocam o  desequilíbrio do  clima. Este desequilíbrio provoca secas severas, o que propicia os incêndios na época da estiagem. A Amazônia e o Pantanal tem sofrido com estes efeitos,  agravados pelo desmatamento para criar gado. 

O problema climático é um problema global e só pode ser resolvido globalmente. 

Fonte: The Guardian, EcoWatch. 

 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

COMIDA BARATA CUSTA CARO À SAÚDE E AMBIENTE



A
ONU publicou no dia 20/07 artigo 10 Things you should know about agricultural industry, 10 coisas que você deveria saber sobre a indústria da agricultura. O artigo chama atenção sobre o consumo de alimentos baratos e os impactos no ambiente e saúde. 

1.  Custa US 3 trilhões por ano para reverter o impacto negativo no ambiente.

A agricultura industrializada produz emissões de gases de efeito estufa, polui o ar e a água e destrói a vida selvagem. O preço para reverter estas consequências como purificar a água potável contaminada ou para tratar doenças relacionadas à má nutrição custa cerca de 3 trilhões de dólares. Comunidades e contribuintes podem estar pagando a conta sem nem mesmo perceber. 

2. Disseminação de virus dos animais para humanos.

A criação em larga escala de animais diminui a diferenciação genética e torna os animais mais vulneráveis aos patógenos, agentes causadores das doenças. A pecuária intensiva,  com animais mantidos muito próximos um dos outros facilita os vírus se espalhar entre os animais e depois para os humanos. 

3. Destruição das áreas de proteção natural contra o virus 

Limpar florestas e matar animais silvestres para dar espaço à agricultura e aproximar fazendas dos centros urbanos também pode destruir os amortecedores naturais que protegem os seres humanos dos vírus que circulam entre os animais selvagens. De acordo com uma avaliação recente do PNUMA, o aumento da demanda por proteínas animais, a intensificação agrícola insustentável e as mudanças climáticas estão entre os fatores humanos que afetam o surgimento de doenças zoonóticas.

4. Resistência aos tratamentos antimicrobianos (antibióticos, antissépticos etc.) e diminuição do efeito dos medicamentos. 

De fato, cerca de 700.000 pessoas morrem de infecções resistentes a cada ano. Em 2050, essas doenças podem causar mais mortes que câncer. Os antimicrobianos são comumente usados para tratar o gado e também  acelerar o seu crescimento. Com o tempo, os microrganismos desenvolvem resistência, tornando os antimicrobianos menos eficazes que os medicamentos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a resistência antimicrobiana "ameaça as conquistas da medicina moderna" e pode precipitar "uma era pós-antibiótica, na qual infecções comuns e ferimentos leves podem matar".

5. Uso de pesticidas e agrotóxicos que fazem mal à saúde

Grandes volumes de fertilizantes químicos e pesticidas são usados para aumentar a produtividade agrícola e os seres humanos estão  expostos a esses pesticidas potencialmente tóxicos através dos alimentos que consomem. O resultado tem efeito adverso à saúde . Foi comprovado que alguns pesticidas atuam como desreguladores endócrinos. Afetam potencialmente as funções reprodutivas, aumentam a incidência de câncer de mama e causam padrões anormais de crescimento e atrasos no desenvolvimento de crianças e alteram a função imunológica. (Esta seria uma explicação porque algumas pessoas estão morrendo de Covid-19 e outras não, PlanetAtivo.) 

6. Contaminação da água e do solo com consequências para a saúde humana

A agricultura desempenha um papel importante na poluição, liberando grandes volumes de esterco, produtos químicos, antibióticos e hormônios de crescimento nas fontes de água. Isso representa riscos para os ecossistemas aquáticos e para a saúde humana. De fato, o contaminante químico mais comum da agricultura, o nitrato, pode causar a "síndrome do bebê azul", que pode levar à morte de bebês.

7. Aumento da obesidade e doenças crônicas

 A agricultura industrial produz principalmente culturas que são usadas em uma ampla variedade de alimentos baratos, com muitas calorias e de acesso fácil. Consequentemente, 60% de toda a energia da dieta barata é derivada de apenas três culturas de cereais - arroz, milho e trigo. A proporção de pessoas que sofrem de fome reduziu, mas os alimentos baratos são pobres em nutrição. A dieta recomendada inclui A, o consumo de frutas, legumes e leguminosas. A popularidade de alimentos processados, embalados e preparados aumentou em quase todas as comunidades. A obesidade também está aumentando globalmente e muitos sofrem de doenças evitáveis frequentemente relacionadas às dietas, como doenças cardíacas, derrames, diabetes e alguns tipos de câncer.

8. Uso ineficiente da terra 

O maior uso da terra tem sido para a criação de gado. Entre 1970 e 2011, o gado aumentou de 7,3 bilhões para 24,2 bilhões de unidades, em todo o mundo, com cerca de 60% de todas as terras agrícolas usadas para pastagem. A agricultura tem sido menos para a produção de alimentos e mais para geração de ração animal, biocombustíveis e ingredientes industriais para alimentos processados. Enquanto isso, embora haja menos pessoas subnutridas no mundo, há muito mais pessoas mal nutridas.

9. Aumento da desigualdade

Embora as pequenas propriedades constituam 72% de todas as propriedades, elas ocupam apenas 8% de todas as terras agrícolas. Por outro lado, as grandes fazendas - que representam apenas 1% das fazendas do mundo - ocupam 65% das terras agrícolas. Isso confere às grandes fazendas um controle desproporcional e há pouco incentivo para o desenvolvimento de tecnologias que possam beneficiar pequenos agricultores pobres em recursos, incluindo os de países em desenvolvimento. Os alimentos baratos podem ser ricos em  energia, mas são pobres em nutrientes. As deficiências de micronutrientes podem prejudicar o desenvolvimento cognitivo, diminuir a resistência a doenças, aumentar os riscos durante o parto e, finalmente, afetar a produtividade econômica. Os pobres são efetivamente desfavorecidos, tanto como produtores quanto como consumidores.

10. Nocivo ao processo natural da vida e à saúde do ambiente.

No início do século XX, o processo Haber-Bosch - que transformaria a agricultura moderna - usava temperaturas e pressões muito altas para extrair nitrogênio do ar, combiná-lo com hidrogênio e produzir amônia, que agora é a base da indústria de fertilizantes químicos . Isso efetivamente tornou obsoleto o processo de fertilização da natureza (sol, solos microbióticos saudáveis, rotação de culturas). Hoje, a produção de amônia consome 1-2% do suprimento total de energia do mundo, representando cerca de 1,5% do total das emissões globais de dióxido de carbono.

Fonte: UNEP. 

segunda-feira, 8 de junho de 2020

RIQUEZA DOS OCEANOS AMEAÇADA PELA “ECONOMIA AZUL”


O valor global do ativos dos oceanos é  avaliado pela WWF,  World Wildlife Fund  em 24 trilhões de dólares.

O problema é que esses ativos oceânicos estão ameaçados pelas atividades humanas que exploram os recursos marinhos. Segundo artigo publicado pela Visual Capitalism, a atividade que mais contribui para a economia azul é a produção direta da pesca e agricultura.

Valores em trilhões de dólares da produção dos oceanos:

Saída direta: pesca marinha, recifes de coral, ervas marinhas e manguezais
Valor total: $ 6.9T
Exemplos de produção direta: pesca, agricultura

Comércio e Transporte: Linhas de Navegação
Valor total: $ 5.2T

Ativos adjacentes: costa produtiva, absorção de carbono
Valor total: US $ 7,8T e US $ 4,3T, respectivamente
Exemplos de serviços habilitados: Turismo, educação / conservação (como empregos criados)

Segundo análise da Visual Capitalist, essa riqueza anual produzida pelos oceanos se equipara ao Produto Interno Bruto (PIB) dos países,  chegando a US $ 2,5 trilhões por ano - tornando-se a oitava maior economia do mundo em termos de países.

Os impactos das atividades na saúde dos oceanos

Pesquisadores identificaram num estudo entre 2003 e 2013 o efeito global das várias atividades humanas em diversos ambientes marinhos. São 4 problemas ou quatro principais estressores que ameaçam este potencial de riqueza.

1- Mudança climática: alteração da temperatura na superfície do mar, acidificação dos oceanos e aumento do nível do mar.

2- Transporte marítimo 

3- Atividade com base terrestre:  poluição dos nutrientes, poluição química orgânica, poluição humana direta, poluição luminosa.

4 – Pesca:  a pesca comercial e artesanal, incluindo métodos de arrasto

A principal fonte de mudança no ambiente marinho tem sido o clima, mas os níveis de poluição também aumentaram para muitos ecossistemas. 

Chamamos atenção para poluição do plástico que não para de crescer.
A instituição 4OCEAN  faz um trabalho relevante para retirar o lixo dos oceanos. Segundo estimativa do Forum Economico Mundial, em 2050 podemos ter mais plástico nos oceanos do que peixe em peso.

Os ecossistemas mais impactados são os recifes de coral, ervas marinhas e manguezais e são também os que mais contribuem para a produção econômica direta. No entanto, os impactos na saúde do oceanos podem dar um prejuízo econômico de 428 bilhões anualmente até 2050.

O papel dos oceanos na regulação do clima

Os oceanos absorvem cerca de 30% das emissões de carbono produzidas pela atividade humana. Os níveis de acidez e o aumento da temperatura do mar estão mudando a sua composição química e reduzindo a sua capacidade de absorver CO2.

Este ano o Dia Mundial dos Oceanos  8 de Junho é virtual e o tema é “Inovação para oceanos sustentáveis”. Uma questão relevante é como as empresas podem trabalhar com as comunidades para manter a Economia Azul com danos mínimos ao ambiente.

A ONU tem alertado sobre a necessidade do uso sustentável dos recursos dos oceanos que significa explorar o que precisamos sem esgotar esta fonte de recursos ou numa pescar sem acabar com os peixes.

Fonte: Visual Capitalist, WWF

domingo, 22 de março de 2020

HABITATS DESTRUÍDOS EXPLICAM O APARECIMENTO DO CORONA VÍRUS

Trecho de artigo  publicado  na Ensia, Saúde Pública por John Vidal, 18/03/20. 
Em 2004 John Vidal  viajou para Mayibout no Gabão para investigar porque doenças mortais novas para humanos emergiam de “hot spots”(lugares quentes) da biodiversidade, como florestas tropicais e mercados de carne de animais selvagens.

Quando chegou ao destino encontrou a população do vilarejo traumatizada com o vírus mortal que matava 90% das pessoas infectadas. Estavam apavorados que o vírus voltasse.

As pessoas contaram que crianças tinham ido para a floresta e que um cachorro matou um chimpanzé. Quem cozinhou e comeu teve problemas sérios e alguns morreram imediatamente, enquanto outros foram para o hospital.

Há uma ou duas décadas, pensava-se que as florestas tropicais e ambientes naturais intactos hospedavam vírus e patógenos que traziam novas doenças, como HIV, Ebola, dengue.

Atualmente um número de pesquisadores pensa que na verdade é a destruição da biodiversidade pela humanidade que cria as condições para os novos vírus como COVID-19. Uma nova disciplina, a saúde planetária emerge com foco nas crescentes conecções visíveis entre o bem estar dos humanos, outras criaturas vivas e ecossistemas inteiros.

David Quammen, autor de Spillover: Animal Infections and the Next Pandemic, Derramamento: Infecções Animais e a Próxima Pandemia escreveu recentemente para o New York Times:

“Nós invadimos as florestas tropicas e outros lugares selvagens onde habiam tantas espécies de animais e plantas e entre elas,  tantos vírus desconhecidos. Nós cortamos árvores, matamos animais ou os engaiolamos e os enviamos aos mercados. Nós pertubamos ecossistemas e soltamos os vírus dos seus hospedeiros naturais. Quando isto acontece, eles precisam de um novo hospedeiro. Frequentemente, somos nós”.

Fonte: Scientific American. 


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