quarta-feira, 1 de julho de 2009

Urgência Permanente


Quando o ciclo da seca começa a ficar mais curto e não há tempo para a recuperação dos pastos que alimentam o gado, a solução é se mover. Isto está acontecendo no Quênia, mas não é uma crise local apenas. Segundo a Organização Internacional para a Migração a previsão é de 250 milhões de migrantes até 2050, quando a população mundial deve atingir os 9 bilhões.

A disputa por espaços volta a ser um tema de discórdia entre as populações locais e internacionais. O relatório “Em Busca de Proteção” (In Search for Shelter) da Universidade da ONU, projeto CARE e Universidade de Columbia em Nova York citam os locais onde a eco-migração deve acontecer:
• Regiões mais secas da África
• Rios da Ásia
• Interior e costa do México e Caribe
• Ilhas planas dos Oceanos Índico e Pacífico.

Se a elevação do mar atingir 1 metro, 24 milhões de pessoas que vivem ao longo dos rios na China, Tailândia, Burma, Índia e Tibet podem ficar deslocadas. O derretimento das geleiras do Himalaia também causará inundações e afetará o preço dos produtos, além de incentivar as disputas.

Uma questão levantada pela revista Economist sobre o assunto é: os migrantes das mudanças climáticas serão reconhecidos? Diferentes dos refugiados das guerras, os eco-migrantes vivem numa “urgência permanente” em virtude da migração “ambientalmente induzida.”
Os que defendem os mais probres reivindicam um dispositivo legal de proteção à nova categoria de migrantes, “os refugiados ambientais”.

A Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados teria que se preparar para lidar com a questão que envolve um número de refugiados muito além da sua capacidade de controle atual. O problema é complexo e deverá garantir o direito de milhares de pessoas no caso de movimentos maciços na Ásia e na África até 2020.

Atualmente muitos estados já estão saturados com o deslocamento das populações internas e teriam que lidar com um número ainda maior. A quem caberia a responsabilidade? Quem são os culpados pela emissão dos gases do efeito estufa?

Segundo a Economist (25/6), Meles Zenawi, primeiro ministro da Etiópia prevê que algumas partes do continente africano se tornarão inabitáveis e “aqueles que causaram o dano, terão que pagar”. Zenawi não deixa por menos do que US$ 40 bilhões.

Em 2004 a também africana Wangari Maathai ganhou o Prêmio Nobel da Paz pelo reconhecimento do Comitê Norueguês do Nobel de que “a paz na terra depende da nossa habilidade de assegurar a vida no meio-ambiente. Maathai luta para promover o desenvolvimento social, econômico e cultural ecologicamente viável na África e no Quênia”. Combater o desflorestamento na África é garantir o sustento de muitas famílias e a paz entre as populações locais.

O crescimento desordenado das cidades também pode criar um novo tipo de refugiado que viu a sua vida na cidade se tornar inviável. Por outro lado, os grandes centros urbanos terão que se preparar para os refugiados ambientais que ficaram sem as suas colheitas. Estrategistas enxergam novos riscos de segurança e uma expansão dos espaços “não governados”. Com certeza a migração ambiental será um grande desafio para o século 21 tanto do ponto de vista econômico, quanto do jurídico. Talvez um bom motivo para se imaginar um único governo para o planeta.

Elizabeth A. Ramos

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