segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A moda é não ter moda!'

Muda o mundo, mudam os valores e as tendências. Agora é a vez da natureza e do desenvolvimento sustentável (desde a preservação dos recursos naturais até a inclusão social). O meio ambiente tá na moda. E a moda, o estilo, como ficam?

Dá para perceber que também tem muita coisa mudando no mundofashion.

Aquela preocupação com a combinação das cores já era. Vermelho só com azul marinho ou branco, ou preto no estilo torcida do flamengo e quem sabe marron... Isso era antigamente. Vermelho agora vai de roxo, de verde, de amarelo. Até de rosa?! Combinar padrões também é coisa do passado. Vale estampado com xadrez, estampado com listras e tudo com tudo. Dá certo?

Parece que sim, pois a ânsia de inovação é na verdade a busca por uma estética mais livre e mais ampla. Uma A moda apenas reflete a necessidade de romper com padrões estabelecidos e encontrar um caminho num mundo que inclui mais possibilidades e opções. Tudo pode estar na moda!

A mistura de tecidos também seria coisa inaceitável há algumas décadas. Lembro de um dono de boutique que teve um ataque porque a vendedora estava usando calça de linho com camiseta de algodão! Linho era com só com linho, ou talvez seda. E para completar, agora as roupas devem parecer lavadas, usadas, recicladas. Faz sentido?

Talvez, porque a mensagem por trás da moda é que está valendo tudo e se vale tudo para que se preocupar em andar na moda? Moda é valorizar o que temos, consertar o que vale pena, transformar o que já cansou e reaproveitar tudo, como se fazia até a revolução industrial. Até então, a maioria das roupas era consertada, remendada ou refeita para dar em outros membros da família, ou ainda reciclada dentro de casa e usada como panos ou mantas.

Pena que o espírito de conservação foi substituído pelo consumismo trazido pela industrialização e que agora é parte integral da economia. Crescimento econômico = novos produtos – (menos) produtos antigos que são jogados fora. Está funcionando? Não. A natureza não tem tempo de ser recuperar na mesma proporção do que consumimos.

O mundo do fast fashion ou moda de consumo rápido se vale da produção em larga escala com mão de obra barata e dos preços baixos. Para quê?

Para a sociedade de consumo comprar mais roupa que não precisa e depois jogar fora. No meio do processo alguns acham que estão lucrando, mas na verdade estamos todos perdendo. Luiz Cláudio, da revista Perspectivas Ambientais da Saúde, Environmental Health Perspectives, considera o estilo de consumo de roupas dos americanos e dos europeus como waste costureou algo como moda de desperdício.

Desperdício no mundo de hoje pode ser um tiro no pé. Para sobreviver temos que viver os 3Rs: reduzir o consumo, reciclar e reaproveitar. Chato, mas eficaz.

O mundo da matéria prima básica da moda polui:

  • O algodão é considerado o cultivo mais sujo do mundo pelo uso intenso de pesticidas: 16% de pesticidas de todo o mundo e apenas apenas 2.5% da área global cultivada.(Organic Trade Association)

  • O processo de fabricação de poliéster emite solventes, matéria particulada, gases ácidos etc. O cosumo do poliéster quase dobrou nos últimos 15 anos. . (Technical Textile Markets)

E se você acha que doar é a solução, talvez o Exército da Salvação não dê conta das doações. Nos EUA, só 1/5 das roupas doadas às organizações de caridades é diretamente usado ou vendido nos seus brechós. E os outros 4/5? Vão para empresas de reciclagem e são vendidos por centavos de quilo. Para quem? Se for roupa de griffe, o Japão compra. Se for do tipo comum, as roupas vão para mais de 100 países, inclusive a Tanzânia. Japão e Tanzânia estão bem longe dos Estados Unidos e para chegar até lá muito combustível vai ser queimado.

Será que os africanos deveriam ficar felizes com as camisetas com logos americanas compradas no mercado local? Moda veste, mas não educa (até este momento). Todo o dinheiro investido na fabricação dos pesticidas para fazer a camiseta de algodão, no plantio da matéria prima e depois no transporte para as indústrias de confecção e na água consumida para produzir o tecido, mais a tinta para produzir a estampa, mais o transporte para levar até as lojas, mais o combustível que o consumidor gastou para ir até lá comprar - todo este dinheiro poderia ser investido na estética do desperdício poderia melhor aproveitado. Programas educativos e produção com tecnologia limpa, para começar.

O problema não é o capitalismo, mas como lidamos como o sistema, onde investimos o nosso dinheiro e as escolhas que fazemos.

Então, fazer o quê? Algumas sugestões:

Para consumistas: mudem as prioridades. Em vez de comprar roupa da moda por que não investir no seu conteúdo pessoal e fazer um curso de cozinha, artes ou até mergulho?

Para os lojistas: não venda só roupa porque não precisamos de tanta. Por que não vender também o que temos que consumir obrigatoriamente como produtos de higiene, utilidades ecológicas ou comestíveis? O café dentro da loja já é uma tendência que deve continuar.

Para as patricinhas (e mauricinhos): comprar roupa de qualidade é uma boa opção porque duram muito e podem usadas indefinidamente. Sigam o exemplo do André Trigueiro e não se preocupem em não repetir a roupa. Se enjoarem do que têm, um troca-troca de griffes pode ser bem divertido.

Para os produtores: investir no desenvolvimento sustentável e salários justos é uma forma de garantir o lucro no futuro.

Para os criadores: o mundo depende das idéias que atendam às nossas necessidades sem acabar com os recursos naturais. Este é o maior desafio!


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