terça-feira, 29 de outubro de 2013

Uma Escolha Decente

A pequena cidade montanhosa de Pungesti no leste da Romenia pode estar assentada sobre vastas reservas de gás de xisto e a companhia energia americana Chevron quer encontrá-lo.
Mas o povo de Pungesti não quer nada disso. 

A maioria da população vive da agricultura de subsistência, da assistência social e do dinheiro de parentes que trabalham no exterior. Eles dizem que preferem ficar pobres do que  arruinar o seu ambiente.

Moradores montaram um acampamento do lado de fora do lote vazio onde a Chevron pretende instalar seu primeiro poço exploratório, bloqueando o acesso e forçando a empresa a anunciar na semana passada que estava suspendendo o trabalho.

" As nossas cozinhas estão cheias de doces caseiros e compotas, sacos de nozes , caixas de mel e queijo, tudo produzidos por nós", disse Doina Dediu , 47 anos, moradora  local e uma dos manifestantes.

" Nós nem somos tão pobres ", disse ela . "Talvez nós não tenhamos dinheiro , mas temos água limpa e estamos saudáveis ​​e nós só queremos ser deixados em paz . "

A decisão de parar a exploração em Pungesti - que deveria ter sido a primeira exploração de gás de xisto da Romenia  - é importante por causa da mensagem enviada sobre como o gás de xisto é visto na Europa Oriental.

Grandes áreas mais ricas da Europa Ocidental têm evitado exploração de gás de xisto por causa dos temores sobre uma possível poluição da água e atividade sísmica do fraturamento hidráulico ou processo de " fracking ", usado para liberá-lo.

A indústria diz que os riscos podem ser evitados. A Grã-Bretanha apóia  a exploração de gás de xisto, a França proíbe totalmente e a Alemanha está revendo sua posição em xisto.

Enquanto a Chevron usa todos os seus argumentos  para convencer a população de que a exploração de gás será feita com métodos seguros, a internet faz o seu papel. Várias pessoas disseram que tinha ido no YouTube para assistir a trechos do documentário  americano de 2010 "Gasland ", que pretendia mostrar os danos ambientais causados ​​pela produção de gás de xisto.

A indústria de energia contesta alegações feitas no filme mas outras fontes, incluindo ativistas e clérigos locais têm influenciado a opinião em Pungesti . As pessoas dizem que os equipamentos pesados ​​vai arruinar suas estradas . Eles temem o fracking por  causar terremotos e poluir a água , arriscando a sua saúde, o seu gado e as suas hortas .
" Se eles colocarem poços eles vão destruir a agricultura ", disse Andrei Popescu , 22.

O primeiro- ministro Ponta falou de benefícios potenciais de xisto , especialmente para uma área pobre como o município Vaslu que inclui Pungesti . Ele recebe pesados ​​subsídios do Estado.

Cerca de 800 moradores, vizinhos , ativistas e o clero se reuniram para um protesto próximo à concessão da Chevron em Pungesti na semana passada. Num dia gelado de sol, eles carregavam faixas que diziam Parar Chevron , Resistir e Deus está conosco.

Vestida com seu hábito preto, Pai Vasile Laiu , sacerdote ortodoxo da cidade vizinha de Barlad e um dos adversários locais mais francos de fracking , pediu às pessoas que se ajoelhassem e  em seguida, levou-os em oração.Cerca de 50 aldeões  se revezaram na vigília de  vinte e quatro horas e disseram  que estavam se preparando para uma longa caminhada.

"Podemos viver sem água ? " um deles perguntou à multidão em um microfone . "Não", os manifestantes responderam .
"Podemos viver sem Chevron ? "
"Sim".


Uma escolha decente que merece respeito.

Fonte: Reuters

terça-feira, 25 de junho de 2013

A NASA pegou emprestado a analogia do Gigante Adormecido brasileiro

Será que a permafrost do ártico  é  O Gigante Adormecido das mudanças climáticas? “ é o título da matéria publicada pela NASA que contra sobre a missão para avaliar o aquecimento da permafrost – camada permanente de gelo – no Ártico.

24 junho de 2013:

 “Voando baixo e lento acima do terreno virgem de North Slope no Alasca, o  cientista Charles Miller, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA observa a vastidão branca da tundra e da camada permanente de gelo. No horizonte, uma linha longa e escura aparece. O avião se aproxima e o objeto misterioso revela um enorme rebanho de caribus  (renas do Ártico) em migração que se estende por quilômetros.

"Vendo os caribus marchando numa fila única através da tundra coloca em perspectiva o que estamos fazendo aqui no Ártico, diz Miller.”

CARVE  (Esculpir) é a abreviação de  “Carbon in Arctic Reservoirs Vulnerability Experiment, Experiência de Vulnerabilidade ao Carbono nos Reservatórios do Ártico.  A missão da NASA tem como objetivo estudar como as mudanças climáticas  estão afetando o ciclo de carbono do Ártico .

No seu terceiro ano, a usa o transporte aéreo para examinar se os reservatórios de carbono são vulneráveis ​​ao aquecimento e entregar  os primeiros mapas das fontes dos  gases de efeito estufa, dióxido de carbono e metano . Cerca de duas dezenas de cientistas e 12 instituições estão participando do projeto.

Segundo Miller,  "o Ártico é fundamental para a compreensão global do clima. As mudanças climáticas já estão  acontecendo no Ártico, mais rápido do que seus ecossistemas podem se adaptar. Olhando para o Ártico é como olhar para o canário na mina de carvão*  em relação ao sistema inteiro da Terra."

Durante centenas de milênios,  a permafrost -  os solos da camada permanente de gelo do Ártico -  acumularam vastas  quantidades de carbono orgânico, cerca de 1.400 a 1.850 bilhões de toneladas, o equivalente à metade de todo o carbono orgânico guardado nos solos da Terra.


Em comparação, as atividades humanas e a queima de combustíveis fósseis emitiram cerca de 350 bilhões de toneladas de carbono desde 1850. A maior parte do carbono está guardado há 3 metros nos solos da superfície ártica. O problema é que a “permafrost” ou camada permanente de gelo pode não ser tão permanente como o nome indica.

Os solos da permafrost estão se aquecendo mais rápido do que a temperatura do ar – entre 1,5 e 2,5 Celsius nos últimos 30 anos. O calor da superfície da Terra penetra na permafrost e ameaça liberar o carbono que está retido em forma de dióxido de carbono e metano, alterando o equilíbrio de carbono no Ártico e aumentando consideravelmente o aquecimento global.

A permafrost  funciona como um  refletor da luz solar para o espaço. À medida que a região sofre com o degelo, as rochas e água absorvem cada mais da energia do sol, tornando a região ainda mais quente.

De acordo com a WWF, uma pequena mudança de temperatura pode ter enormes implicações e alterar as características da região:

·      Desaparecimento de alguns estoques de peixes
·      Mais incêndios de florestas e danos de tempestades nas áreas costeiras da região
·      Extinção de ursos solares até o final do século
·      Aumento do nível do mar com derretimento do gelo
·      Alteração da Corrente do Golfo que leva águas mais quentes e clima ameno para a Europa.
     Apesar das evidências que o aquecimento global no Ártico está se acelerando, ainda há empresas que querem explorar petróleo na região e piorar a situação.

*mineiros levavam um canário quando desciam nas minas para medir a qualidade do ar. Se o canário morria...

Fonte: Nasa

sexta-feira, 29 de março de 2013

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PRECISA SER COERENTE


No recente Relatório de Desenvolvimento Humano, a ONU faz uma dura advertência:   
" a falta de ação ambiental, especialmente quanto à mudança do clima, tem o potencial de parar ou mesmo inverter o progresso do desenvolvimento humano.” A ONU tem um grupo de trabalho que busca um conjunto de “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”.

Mas o que é o desenvolvimento sustentável? A definição atual é: “desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem às suas necessidades”.

Um grupo internacional de dez cientistas e analistas de desenvolvimento publicou na revista Nature do dia  20/3 um documento que propõe uma nova definição: “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, enquanto salvaguarda o sistema de suporte de vida na Terra, do qual depende o bem estar das atuais e futuras gerações.”

A degradação da natureza  está minando os esforços para reduzir a pobreza, alertam os cientistas que dizem que  a única chance de alcançar a prosperidade global é se todos os países combinarem as metas de combate à  pobreza com as metas ambientais.

O atual modelo de desenvolvimento sustentável  da ONU de três pilares integrados - econômica, social e ambiental  é falho, pois não reflete a realidade. Os pesquisadores argumentam que estes três conceitos não podem funcionar em esferas independentes e separadas e sim contidos um dentro do outro.

Se a economia de um país está crescendo, mas o desmatamento também, não existe desenvolvimento sustentável. Se um país investe muito dinheiro em políticas sociais e controi hospitais, mas não investe em saneamento e a população está sujeita às doenças, não há desenvolvimento sustentável.  Se um páis cria leis ambientais para proteger os ecossistemas marinhos, mas permite a exploração de petróleo nas zonas costeiras, não há desenvolvimento sustentável.

Dr. Priya Shyamsundar da Rede Sul da Ásia para o Desenvolvimento e Economia Ambiental, no Nepal  e co-autor do documento explica:

 “À medida que a população global  caminha para nove bilhões de pessoas, o  desenvolvimento sustentável deve ser visto como uma economia à serviço da sociedade dentro do suporte do sistema de  vida na Terra e não como três pilares.”

Andrew C. Revkin que participou do grupo internacional, assinala no seu blog Dot.Earth/ New York Times,  os seis objetivos universais identificados pelo grupo dos cientistas:

1.     Vidas prósperas e meios de subsistência
2.     Segurança alimentar
3.     Segurança da água
4.     Energia limpa
5.     Ecossistemas saudáveis e produtivos
6.     Governança para sociedades sustentáveis.

Para alcançar os objetivos há os requisitos obrigatórios:

1.Estabilidade do clima
2.Redução da perda de biodiversidade
3.Proteção dos serviços dos ecossistemas
4.Ciclo saudável da água e do oceano
5. Uso sustentável do nitrogênio e fósforo
6. Ar limpo
7. Uso sustentável dos materiais.  

Para o Prof. David Griggs da Monash University da Austrália, os seres humanos estão alterando o sistema de suporte de vida da Terra - a atmosfera, os oceanos, as vias fluviais, as florestas, as geleiras e a biodiversidade, que nos permitem crescer e prosperar.

A prioridade agora é manter os ecossistemas da Terra e ao mesmo tempo prover alimento e uma qualidade decente de vida para 7 bilhões de pessoas, caminhando para 9 bilhões.

Co-autor Professor Johan Rockström, diretor do Stockholm Resilience Centre, disse:
 "A pesquisa mostra que estamos agora no ponto em que o funcionamento estável dos sistemas da Terra é um pré-requisito para uma sociedade próspera global e desenvolvimento futuro."

Stafford Smith declarou que "em última análise, a escolha de objetivos é uma decisão política,  mas a ciência pode informar qual a combinação de objetivos pode alcançar um futuro sustentável. E a ciência pode identificar metas mensuráveis ​​e indicadores", disse Stafford Smith.

O PlanetAtivo tem defendido a abordagem dos problemas ambientais com coerência. Companhias como a Shell e Petrobrás que financiam políticas  ditas de “desenvolvimento sustentável”, mas que continuam a fazer investimentos  para extrair mais petróleo estão como se diz na linguagem popular, tapando o sol com a peneira.

Petróleo emite gases nocivos à saúde e ao ambiente. Contamina ecossistemas marinhos e terrestres. Petróleo polui. 

 Fonte: IRIN, New York Times, Science Daily, The Guardian. 

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